O filme mais emocionante – na acepção da palavra – da carreira de James Cameron.
Todas as vezes em que penso na possibilidade da interação entre humanos e extra-terrestres, nunca é elegante e diplomático como em Jornada nas Estrelas. O instinto desbravador e sanguinário, a meu ver, prevaleceria, fazendo do espaço sideral um novo mar a ser conquistado, na maioria das vezes através de muita violência. James Cameron reconta essa ancestral prática de uma forma absolutamente espetacular em Avatar.
Por ter levado quase quinze anos para levar essa obra às telas, Cameron passou por uma grande batalha com grandes vitórias, marcando seu nome na história do cinema com Titanic, uma simples história de amor superdimensionada pelo desastre. Antes disso, conquistou o público masculino com ação e consistência com a série Terminator. Dessa vez, independente do dinheiro que faça ou deixe de fazer, o diretor construiu um mundo inteiramente novo, porém familiar e encantador para platéias de diferentes gerações. Clichê, mas o homem conseguiu mesmo.
Sam Worthington (beeem melhor do que em T4, pra ver que diferença faz um diretor) encarna Jake Sully, um ex-fuzileiro que não deveria estar indo à lua do planeta Polyhemus, Pandora, mas por ter estrutura genética muito similar a seu falecido irmão gêmeo, cientista e o verdadeiro dono da vaga, embarca em uma viagem que muda sua vida completamente. Sully é paraplégico, portanto não se aguenta de felicidade ao experimentar o gigantesco corpo de seu avatar, um Na’vi, espécie nativa que sofrerá com o que os terráqueos querem fazer. Por acidente, é encontrado pela bela (sim, achei uma alien azul de 3 metros de altura, com rabo e orelhas pontudas bonita, e você vai achar também) Neytiri (a brilhante Zoë Saldana), por quem se apaixona e acaba se envolvendo com a tribo dela.
Muitos podem vir a criticar o plot básico, uma estrutura clássica que já vimos inúmeras vezes, mas Cameron se vale disso de uma forma tão impressionante que é impossível não se envolver. A entrega total de Sully, explorando cada novidade de Pandora, apresenta a idéia do filme de forma cativante, pois é exatamente assim, sem saber o que vai ver, é que eu e muitos o assistiram.
Com o coração exposto, o filme rebusca nos efeitos. O mundo físico, a fauna e flora de Pandora são deslumbrantes, mas não foi isso o que me impressionou. Eu não lembro de ter visto performances digitais tão perfeitas mesmo nos filmes inteiramente feitos em CGI (dando nome aos bois, Beowulf de Robert Zemeckis perde muito, muito feio). Todo o conceito de captura de performance foi repensado e evoluído especialmente para Avatar e o resultado se entranha nos olhos do público. Não se vê os bonecos digitais de Sam e Zoë. Os dois estão lá, o tempo todo. Principalmente nas cenas que exigem maior drama, o sentimento é passado de maneira assustadora. É irônico pensar que Cameron esperou o tempo certo para conseguir a tecnologia mais avançada possível ao ponto de quase desaparecer, dando espaço ao puro storytelling. Avatar podia muito bem começar com um “Era Uma Vez…”.
Na grandiosa batalha final, quando já estava muito imerso no filme, vibrei com a reação Na’vi. E me espantei. Menos de 2 horas antes eu nem sabia quem eram direito. Há tempos não tive empatia tão rápida assistindo o que quer que fosse. Lógico, tudo em Pandora tem análogos em nosso cotidiano, para facilitar mesmo a compreensão. De qualquer maneira, o universo em si é rico e complexo, portanto é quase uma necessidade que o espectador se reconheça ali naquele mundo estranho.
A grande mensagem salve-a-natureza do filme certamente será vista com maus olhos pelos implicantes. Podem dizer que é piegas, que cai para o maniqueísmo no final, que muitos dos diálogos são fracos (isso, eu de fato admito), mas é acessível como um filme de James Cameron nunca havia sido. Ouso dizer que, se for realizada uma trilogia consistente, será a Guerra nas Estrelas das crianças de hoje, em vários sentidos. Não há violência excessiva, nem palavrões. Cada veículo, animal e personagem já virou brinquedo e deve ser disputado à tapa. Adolescentes têm suas batalhas épicas e explosões. Mulheres têm sua love story. Nós, ou pelo menos eu, fico com uma fábula linda, uma aventura repleta de fantasia que dá vontade de rever e explorar o que mais Avatar tem a oferecer. Afinal, o que vimos foi só uma das luas do sistema, imagine.
Imagine.
Nenhum comentário:
Postar um comentário